Após 70 anos do seu lançamento, o livro Seduction of the Innocent, de Fredric Wertham, será publicado oficialmente no Brasil pela editora Noir.
Tido como um dos grandes expoentes para o movimento de censura nos quadrinhos durante as décadas de 1950, o trabalho do psiquiatra alemão (publicado originalmente em 1954), junto às inúmeras audiências realizadas pelo Congresso americano para se criar uma regulamentação sobre a publicação de quadrinhos, deram origem ao grupo comercial regulamentador Comics Magazine Association of America (CMAA) que, por sua vez, foi o responsável pela criação do famoso Comics Code Authority.
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O CCA ou Comics Code Authority, como ficou amplamente conhecido, foi um código de ética e auto-regulamentação realizado pela união das próprias editoras de quadrinho nos Estados Unidos, servindo como uma alternativa a censura governamental que buscava controlar o conteúdo que seria publicado nas revistas, sob o discurso de proteger a juventude contra a influência da violência gráfica e conteúdos de horror, além de impedir o avanço da delinquência juvenil.
Obviamente que todo esse discurso ultra conservador da época se provou errôneo, no futuro. Entretanto, normativas restritivas sobre o conteúdo explícito em filmes e quadrinhos nos Estados Unidos duraram décadas (no cinema a regulamentação era o Código Hays, de 1930). E um dos grandes responsáveis pela histeria dos quadrinhos foi justamente o livro Seduction of the Innocent, que baseou suas hipóteses em pseudociência, informações falsas e provas fabricadas para manipular a a sociedade (sim, fake news já estava presente).
O Comics Code Authority foi extinto em 2011, mas só agora, nós brasileiros vamos ter a oportunidade de ler na integra o material original do livro de Wertham, traduzido oficialmente. O projeto da editora Noir ainda vai contar com um livro extra com mais de 700 notas complementares, produzidas pelo editor e também psiquiatra, Jotapê Martins, que deverão ser consumidas junto material principal para ajudar na contextualização e desmistificação das informações falsas.
Além disso, durante uma live feita no canal Pitadas do Sal e como comentário ao site do Fora do Plástico, Jotapê reforçou que a obra vai contar com um aviso sobre ser “lida dentro do seu contexto” e que deve ser abordada como um documento histórico – não como pesquisa científica, estudo acadêmico e nem referência bibliográfica.
O projeto que tem edição de Jotapê Martins e tradução de Nobu Chinen, está em produção há cerca de quatro anos e estrear seu financiamento coletivo no Catarse no começo de junho.
Para mais informações sobre a edição nacional de Seduction of the Innocent, vale a pena seguir o perfil da editora nas redes sociais.