É inegável que The Last of Us começou com os dois pés na porta e, não só tem sido uma das séries mais comentadas do ano, como tem tudo para se consagrar como uma das melhores adaptações de games já feitas.
Semelhante ao que vimos anteriormente, no segundo episódio nomeado Infected temos uma introdução nos dez primeiros minutos revelando mais detalhes do começo do surto envolvendo o fungo cordyceps.
Partindo do dia 24 de setembro de 2003, em Jacarta (cidade em que foram registrados os primeiros surtos de infectados), acompanhamos uma equipe da polícia local indo atrás da professora de Micologia da Universidade da Indonésia, Ibu Ratna, para analisar uma amostra do fungo coletada de uma pessoa.
Após um momento de espanto e uma autópsia de revirar o estômago, com direito a fungo saindo da boca do cadáver, temos um diálogo entre a professora e um dos capitães da polícia onde ele revela que a pessoa morta foi apenas uma das quatro que foram infectadas através de uma mordida humana, em uma fábrica de farinha e grãos.
Depois de 30 horas a mulher teria ficado violenta e, assim como os outros infectados, tiveram que ser mortos. Entretanto, no mesmo local em que trabalhava, havia outros 14 funcionários que desapareceram do lugar. Como se já não fosse o bastante, também não sabiam dizer quem seria o paciente 0.
Neste momento, a professora explica a situação e revela que não existem remédios, vacinas ou curas que possam impedir o avanço do fungo. A única solução seria bombardear a cidade. E em um tom de pesar gigantesco, a abertura preenche a tela e nos leva ao presente novamente.
Expandindo a mitologia da franquia
Não estava com pretensão de desenvolver esses primeiros parágrafos descritivos, até porque fiz isso no primeiro episódio e o texto ficou enorme.
Porém, achei importante esse início por alguns motivos. O primeiro é que, pelo que deu para entender, essa introdução deve ser um padrão que se estenderá por toda a série e vai servir para explicar melhor como a epidemia tomou proporções globais rapidamente.
Além de prender a atenção do público (tanto os que jogaram o game e sabem tudo o que vai acontecer, quanto aqueles que estão tendo o primeiro contato com The Last of Us), finalmente teremos a exploração de um território antes nunca abordado na franquia.
Saber o que aconteceu e como aconteceu é novidade para todos, então isso é uma ótima jogada do roteiro para manter o engajamento do público.
Outro ponto bacana sobre essa abordagem é a forma como o argumento consegue explicar conceitos e situações que veremos durante a jornada dos protagonistas sem a necessidade de ficar expondo todas as suas camadas.
Um exemplo é quando os personagens mostram o cenário urbano fora das zonas de quarentena. A cidade devastada, com prédios em ruínas e ruas vazias, poderia fazer com que a audiência imaginasse as centenas de possibilidades que causaram aquela destruição – perdendo o foco do que realmente importa.
Mas ao mencionar os bombardeios na introdução do episódio, nós embarcamos na aventura já sabendo o que rolou ali sem a necessidade de ficar explicando tudo o que aconteceu durante esses 20 anos.
Um simples complemento da Tess afirmando que essa foi a solução que os governos encontraram para reduzir a contaminação em cidades grandes já nos faz comprar a ideia da destruição.
E esse recurso está intrínseco com os acontecimentos do episódio. Seja para reforçar a ideia do tempo de contaminação de acordo com o local da ferida ou mesmo para validar as diferentes maneiras de infecção que as criaturas podem promover – o que, inclusive, justifica a polêmica cena no final do episódio.
No geral, esse episódio tem dois grandes objetivos: mostrar como Joel ainda está relutante em aderir essa missão de levar a Ellie aos Vaga-lumes e revisitar seus fantasmas do passado (principalmente aqueles que envolvem a perda da sua filha), além de servir para expandir o conhecimento que temos sobre este universo.
Aqui fomos apresentados a uma nova criatura, o horrendo Estalador, também mostraram pela primeira vez na franquia uma horda com dezenas de infectados. Mas a adição mais importante, sem dúvidas, foi o conceito de conectar as criaturas através das gavinhas que o fungo gera e crescem debaixo da terra, ligando-as entre si.
Em outras palavras, essa conexão permite que infectados a quilômetros de distância sintam quando houver uma movimentação em determinada região e, assim, todos possam correr para o mesmo lugar, guiados por essa espécie de sensor natural.
Essa novidade promove uma dinâmica totalmente diferente para o risco dos infectados e faz com que essa jornada ganhe ainda mais obstáculos para ser concluída.
Apesar de não ter esporos, os infectados agora têm rastreadores e gavinhas para facilitar a comunicação entre si. Nada mal, heim?
Como se não fosse o bastante, esse novo “recurso” ainda facilita o contágio dos infectados que, agora, não precisam mais ser violentos e causar ferimentos em suas vítimas para concluir seu objetivo. Basta encontrar um caminho rápido para o cérebro que o seu órgão de sustentação faz o resto.
E é essa a explicação da cena tão comentada do final do episódio. O beijo tão nojento e invasivo nada mais era do que um atalho para dominar o hospedeiro e acelerar a transmissão.
Novamente, o roteiro e a direção dando uma aula de sutileza e efetividade. Um episódio simples, mas cheio de camadas sobre um universo pós-apocalíptico extremamente vivo e aterrorizante.
Para fechar minha análise, preciso dar destaque para o trabalho dos diretores deste episódio que foi simplesmente fantástico ao criar momentos aterrorizantes em cenários escuros e claustrofóbicos.
Além da direção, outro trabalho primoroso foi o da equipe de som que conseguiu transportar toda tensão do jogo para uma outra mídia. É visível a paixão que despejaram nessa adaptação.
The Last of Us tem seus novos episódios disponibilizados todos os domingos, a partir das 23hs, na HBO Max.