Um dos conceitos mais utilizados nas obras de ficção científica é o da invasão alienígena à Terra que, geralmente, acompanha um período de guerras com consequências colossais, como a extinção da raça humana ou a escravização de terráqueos.
Por mais que, nem toda história envolvendo extraterrestres siga essa vertente catastrófica, a questão do conflito entre espécies é bem comum e já foi explorada em diversos filmes, livros, quadrinhos e até programas de rádio, como vou comentar na resenha de Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, mais para frente.
Entretanto, imagine que uma invasão da mesma escala acontecesse, mas, ao invés de trazer destruição consigo, os aliens inauguraram um período de paz como jamais visto em nossa história.
No mínimo, essa atitude iria subverter a expectativa de todos, não é mesmo? É assim que me senti quando comecei a ler O Fim da Infância, escrito por Arthur C. Clarke, publicado em 1953.
A história já começa de um jeito bem diferente, apresentando as visões de dois personagens irrelevantes, mas que estão à frente de projetos dos Estados Unidos e da União Soviética na briga para ver quem sairia na frente durante a Corrida Espacial.
Aquilo que, num primeiro momento, parece ser um dos conflitos da trama é, em poucas páginas, desprezado e jogado de lado quando objetos voadores são avistados nos céus do mundo inteiro – revelando para a humanidade que ambos os lados estavam bem atrasados na missão de desbravar o universo.
Com isso somos levados ao futuro e apresentados a um dos “protagonistas” do livro, o Secretário-Geral das Nações Unidas, Rikki Stromgren, e descobrimos que ele foi escolhido pelos alienígenas, conhecidos como Senhores Supremos, para se tornar o porta-voz deles aos humanos.
Por sua vez, os alienígenas que não revelam sua forma física, perguntam à ele o máximo de informações sobre sua “popularidade” na Terra e qual tem sido a evolução da sua rejeição entre grupos de oposição às suas políticas pacifistas, que acabaram com as guerras, a fome e a desigualdade para dar lugar a prosperidade e a paz, mas, em contra partida, acabaram com parte do livre arbítrio.
Mesmo que tenham feito apenas duas intervenções reais na vida dos terráqueos, o medo do desconhecido foi o suficiente para promover uma onde de passividade entre eles. Apesar disso, grupos descontentes com os Ets e seu líder, Karellen, começam a aparecer e questionar se realmente vale a pena a troca da sua liberdade pela paz universal implantada “gentilmente” de forma obrigatória.
E essa discussão promete se estender por boa parte do livro, que conseguiu me surpreender e deixar instigado logo nas primeiras 54 páginas lidas.
Talvez, o ponto que mais tenha me fisgado seja justamente a abordagem filosófica sobre um contexto de “E se…”, onde os possíveis vilões se mostram (à primeira vista) como salvadores, fazendo melhorias sociais significativas, mesmo sem realizar uma única ação direta sequer. Criando uma autoridade apenas com base em sua benevolência.
Por outro lado, sua presença assustadora e misteriosa acaba roubando a liberdade de escolhas da humanidade, que se vê obrigada a prosperar, mesmo que não seja a sua vontade.
Parece até besteira, afinal, quem não ia querer viver num mundo onde tudo é bom o tempo todo? Mas é aquele típico dilema sobre o preço da liberdade como um valor do indivíduo.
Existem outras discussões paralelas, como a questão das religiões e o fim da necessidade da fé no sobrenatural, ou mesmo sobre o sentido da vida e suas adversidades, mas pretendo me aprofundar somente na resenha completa, pois devem ficar ainda mais evidentes até o final da obra.
No geral, estou gostando bastante do que estou lendo, até o momento.
Sei da importância do livro e do autor para o gênero de ficção científica (mesmo escritor de 2001: Uma Odisséia no Espaço e Encontro com Rama) e estou bem contente de ter sido surpreendido pela vertente narrativa que escolheu para contar a história.
Existem certas coisas que podem me deixar um pouco frustrado com a leitura até o final da obra, como a falta de um personagem condutor, já que a narrativa é feita em 3ª pessoa, mas por protagonistas distintos, porém, espero que isso não aconteça.
Quanto à narrativa, é meio óbvio que, em algum momento, os alienígenas vão se mostrar os grandes vilões da trama – está na cara, apesar de toda construção bondosa deles. Só espero que a escrita seja bem desenvolvida para evitar os clichês que comentei no início do texto e, mesmo que não cause o mesmo impacto da sua primeira parte, venha propor uma conclusão à altura do resto do material.
Se consegui despertar o seu interesse pelo livro, garanta o seu e leia comigo para discutirmos na resenha, logo menos. Vou deixar o link para a compra na Amazon AQUI.