Sabe aquele livro de horror que consegue te fazer olhar para os lados enquanto lê para garantir que está tudo certo? Foi assim que eu me senti lendo Terra Formars pela primeira vez e fiquei exatamente assim relendo agora, anos depois. 

Ao contrário do que eu possa ter feito você imaginar, esse não é um mangá de horror e nem faz uso das tradicionais convenções do gênero em sua narrativa. Contudo, seu vilão medonho e asqueroso é capaz de colocar medo em qualquer um – transpassando o limite das suas páginas para criar um incômodo genuíno na vida real. Afinal, não importa onde esteja, você sempre estará vulnerável a uma barata.

Terra Formars vol. 1

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Terra Formars – Vol. 01 | Capa Ed. JBC (2015)

Após ser um dos escalados para realizar a importante missão de expansão espacial da U-NASA, junto a equipe do Capitão Daves, Shokichi Komachi se junta a outros 13 jovens de diferentes etnias em um procedimento cirúrgico de alto risco, que mescla sua genética a de insetos com habilidades únicas e os torna aptos a realizar a tarefa em Marte. 

O planeta que promete ser salvação para a pobreza e superpopulação da Terra, no ano de 2599, acabou sendo alvo de inúmeras pesquisas quando os cientistas descobriram que seu solo abrigava um imenso volume de dióxido de carbono (CO2) congelado e, caso conseguissem estabilizar sua pressão atmosférica, poderiam melhorar a absorção solar e, consequentemente, aumentar a temperatura de -58ºC – tornando-o um planeta habitável.

Entretanto, o processo de terraformação acaba sendo comprometido quando a estratégia de enviar organismos vivos para cobrir o planeta vermelho dá errado e, após anos sendo expostas a constante radiação, as algas e baratas que foram enviadas à Marte para escurecer sua superfície e aumentar a absorção do calor, se tornaram criaturas mutantes extremamente letais, dando o pontapé inicial para colocar em risco a única esperança da humanidade.

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É impressionante como algumas ideias malucas podem dar origem a histórias absurdamente legais. Terra Formars não é apenas um mangá divertido. Ele consegue ser extremamente criativo e inteligente também – seja ao inserir elementos de fácil identificação com a realidade, como o aumento populacional, ou mesmo ao abordar conceitos da ficção-científica de forma crível, principalmente quando consegue encorpar suas teorias com explicações reais de química e biologia.

Aqueles que conseguirem embarcar na viagem do autor Yū Sasuga e não levar tão a sério o começo meio lento e, de certa forma, genérico que esse primeiro volume tem, será recompensado com desenhos espetaculares e batalhas de brilhar os olhos, uma vez que a arte, em si, consegue enriquecer muito os sentimentos que o texto falha em trazer.

Apesar dos cenários não terem muitos detalhes (lembrando que a história se passa em um planeta que tem apenas gelo, alga e barata), o artista se destaca ao dar vida aos personagens. Eles até podem ter um plano de fundo clichê para contar como se enfiaram nessa missão, mas o capricho dos desenhos é tanto que você compra o argumento de cada um tranquilamente.

Esse cuidado com os personagens acontece durante o mangá inteiro, mas o destaque mesmo é quando eles injetam uma espécie de soro mutagênico capaz de despertar o DNA dos seus respectivos insetos para se transformarem em criaturas humanóides com super poderes. Essa transformação é sensacional e muito imaginativa, pois é antecipada por uma explicação simples do motivo de terem escolhido aquele inseto e, logo depois, mostra como sua “habilidade especial” pode ser valiosa ao ser ampliada na escala humana.

Por exemplo, um dos tripulantes recebe o DNA da Formiga-cabo-verde em sua cirurgia. Apesar de ser conhecida pelo seu tamanho, sua característica mais marcante é uma picada bastante violenta, descrita como semelhante a levar um tiro. Esse atributo elevado à escala de um ser humano, se torna uma arma mortal capaz de enfrentar no mano-a-mano qualquer outra criatura (será mesmo?)

E se a aparência dos protagonistas surpreende pela estética criativa, as baratas tunadas com deca e durateston causam o mesmo efeito, mas acompanhado de uma enorme repulsa, pois impressionam no visual, mas causam desprezo ao exibirem alguns aspectos repugnantemente inconfundíveis, como anteninhas e cercos. Por mais que você saiba que aquele bicho não existe, dá muita aflição se imaginar naquela situação.

Como disse anteriormente, o roteiro não é tão complexo assim. Na verdade, Sasuga busca a todo momento descomplicar coisas que poderiam ser mais aprofundadas, como a relação dos personagens. Porém, isso não acontece e qualquer esperança que você tenha de acompanhar uma trama mais robusta, será aniquilada na primeira linha de diálogo, que deixa bem claro a simplicidade do texto.

O único ponto que me chamou bastante a atenção no argumento foi a escolha corajosa que o autor seguiu em apresentar uma visceralidade repentina com a maioria dos personagens. É desmembramento, decapitação, pescoço quebrado… um estilo de narrativa que me lembra muito as HQs de The Walking Dead ou mesmo os livros de As Crônicas de Fogo e Gelo

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Se você não gosta de personagens descartáveis para a trama, sinto em lhe informar. Passe longe de Terra Formars. Agora, se tudo o que eu disse e mostrei te causou uma certa curiosidade, vá atrás desse mangá, pois não vai se arrepender.

Infelizmente, já li alguns volumes seguintes e posso spoilar que não são tão bons quanto este. Entretanto, as escolhas não tiram o mérito do autor de ter criado uma história muito divertida e que vai desbloquear novos traumas em você.


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REVER GERAL
Nota
terra-formars-vol-01<b>Título:</b> Terra Formars - Vol. 01<br> <b>Autor:</b> Yū Sasuga<br> <b>Editora:</b> JBC<br> <b>Páginas:</b> 210 páginas<br> <b>Gênero:</b> Mangás e Graphic Novels<br> <b>Ano de publicação:</b> 2015<br> <b>Classificação Etária:</b> 16 anos