A probabilidade de alguém não conhecer Resident Evil, hoje em dia, é extremamente pequena.

Mesmo que nunca tenha jogado nenhum jogo da série, é improvável que não tenha tido contato com ao menos um dos filmes de qualidade questionável, animações, quadrinhos, trilhas sonoras ou qualquer outro derivado dessa franquia é uma das 20 mais rentáveis da história dos videogames.

Claro que, com um barulho tão grande na indústria, uma hora essa série teria que receber adaptações literárias também. Afinal, além de ser uma oportunidade para lucrar mais, é uma mídia que permite desenvolver melhor seu lore, personagens e aprofundar ou mesmo corrigir furos nos diversos enredos existentes.

Curiosamente, a Capcom, empresa por trás de Resident Evil, foi visionária ao entender o potencial das adaptações literárias logo após o sucesso do primeiro jogo, lançado em 1996.

Foi assim que, em 1998 – ano de lançamento de Resident Evil 2 nos consoles – chamaram a autora Stephani Danelle Perry, ou S.D. Perry, como é mais conhecida, para desenvolver o projeto de novelização dos jogos, nos Estados Unidos. Assim surgiu Resident Evil: A Conspiração Umbrella.

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Resident Evil: A Conspiração Umbrella – Capa Ed. Benvirá (2013)

Sendo o primeiro de sete livros baseados nos jogos, Resident Evil: A Conspiração Umbrella conta a história do primeiro game, acrescendo detalhes importantes à trama que não haviam explorados anteriormente.

Em resumo, o enredo é o mesmo: misteriosos assassinatos começam a acontecer nos arredores de Raccoon City e as marcas encontradas nos cadáveres descobertos próximos às Montanhas Arklay apresentam sinais de canibalismo. 

O Esquadrão de Táticas Especiais e Resgate (para os mais íntimos, S.T.A.R.S) é convocado para investigar as mortes e esclarecer o que está acontecendo. Como de costume nas missões do grupo, a primeira equipe a ir reconhecer o local foi a Bravo. Porém, algo dá errado e a comunicação dos outros membros do S.T.A.R.S com eles é perdida. 

É aí que o segundo e mais experiente grupo, denominado Alpha, parte para a floresta, onde estabeleceram o último contato com os agentes e, depois de procurar um pouco, são atacados por cães selvagens que os forçam a fugir e procurar abrigo numa mansão, supostamente abandonada – à qual pertencera ao bilionário presidente da Umbrella Corporation, Ozwell E. Spencer.

Procurando uma maneira de sair da mansão e os agentes perdidos do Bravo Team, Chris Redfield, Jill Valentine, Albert Wesker e Barry Burton se separam, e acabam descobrindo muito mais do que esperavam.

Além da presença de um traidor no meio do grupo, é revelado que um acidente com as pesquisas de desenvolvimento de armas biológicas deu origem a um terror macabro, criando zumbis e criaturas infectadas sedentas por carne.

Como eu disse, o livro tem a mesma história do jogo. Sua grande diferença está nos detalhes da trama, que justificam e fazem a leitura valer a pena.

O enredo é apresentado por visões de diferentes personagens, com o foco em Chris e Jill, os grandes protagonistas do game. Entretanto, a autora consegue dividir bem a perspectiva de todos para dar aprofundamento na história de cada um. Isso acaba sendo uma das melhores coisas do livro, pois você acaba entendendo suas motivações e justifica suas personalidades.

Já o desenvolvimento da narrativa é muito semelhante ao jogo. Todos os puzzles, cenários e inimigos, são descritos com extrema clareza e fidelidade. O suspense, marca da série, também é bem apresentado e combina com a seriedade que o livro trata as questões – mesmo as mais absurdas, como a chuva de cobras ou os mecanismos malucos da mansão. 

Grande parte disso é mérito da escritora. Stephani é filha do escritor Steve Perry, e já trabalhou em romances baseados em franquias como Star Trek e Alien VS. Predador. Em alguns deles, escreveu junto ao seu pai. E como opinião pessoal, acho que ela escreve bem melhor que ele. 

Ela consegue passar tensão e deixar o leitor apreensivo, mesmo que saiba o que vai acontecer na próxima página.

Outra coisa que trabalha muito bem são as inúmeras referências diretas ao jogo. Sim, sim, essa é a intenção do livro, mas existem algumas coisas específicas, como piadas e falas que estão ali para aqueles que jogaram o game. Tipo um easter egg da Marvel, sabe?

O livro também é uma espécie de “tapa buracos” do roteiro original. Vários furos são corrigidos e explicações são dadas. Coisa que é totalmente normal nesse tipo de novelização.

Mas como nem tudo são rosas, mesmo com tantos elogios, Resident Evil: A Conspiração Umbrella tem lá seus defeitos. Tirando o fato da exploração de cada um dos personagens, não há mais nada de novo.

Se você começar a ler esperando ver mais cenas de ação ou momentos memoráveis, além dos que são apresentados no jogo, pode se frustrar. 

Mesmo as cenas apresentadas na história não são tão impactantes quanto são no jogo. As grandiosas batalhas com certas criaturas são resolvidas em poucas linhas, reduzindo até o mais imponente adversário a só mais um obstáculo entre os personagens e seu objetivo de sair daquela casa.

A maneira como o livro vai segurando na sua mão para resolver as situações também chega a ser frustrante depois de um tempo. Em uma história de suspense é normal que algumas pontas fiquem soltas para que você pense e fique mais interessado nos mistérios do livro. Aqui isso não acontece. 

Você é guiado por diálogos expositivos até a resolução dos problemas sem nem precisar se atentar aos detalhes.

O vilão principal também é extremamente caricato, chegando a ser tedioso acompanhar os seus momentos “solo”. Suas falas, atitudes, falta de planejamento, é tudo muito fraco e desenvolvido para atender apenas a necessidade de ser o antagonista. Uma baita oportunidade desperdiçada.

Apesar da linguagem informal e ter até alguns palavrões, esse problema com a narrativa simplória é um reflexo da classificação do livro, definido como infantojuvenil. Para atingir um público maior na época em que foi lançado, teve que se enquadrar em certos limites de narrativa.

O livro pode parecer curto, mas não é. Tem 230 páginas, porém, são bem preenchidas e diretas. Sem muita enrolação.

A primeira versão de Resident Evil: A Conspiração Umbrella no Brasil, foi lançada em 2012, pela editora NewPoP, mas que não teve o sucesso esperado. Erros de grafia, concordância e até problemas na digitação, eram comuns no livro. Para se ter uma ideia, conseguiram até errar o nome do protagonista; “Chris” foi escrito “Cris”, em determinado momento.

O pior é que depois das inúmeras reclamações, a editora simplesmente abandonou a publicação dos outros seis livros. 

Foi então que, em 2013, a Benvirá adquiriu os direitos de publicação e começou um projeto de relançamento. Essa foi a versão que li e posso dizer que é a edição definitiva que os fãs brasileiro mereciam há anos. Todos os erros foram corrigidos e o acabamento do livro ficou muito à altura do que deveria ser desde o começo.

Não gostei muito das novas capas, ainda prefiro as originais, mas isso é gosto pessoal mesmo. Elas são inspiradas no jogo e não deixam de ser bonitas, no geral.

Resident Evil: A Conspiração Umbrella é um prato cheio para fãs da série. Um dos melhores livros baseados em jogos que já li. 

Para quem nunca teve contato com nada de Resident Evil, é uma boa porta de entrada, pois não é necessário ter jogado o game para entender a história. Pode ir com fé que a leitura é fluída, centrada e, acima de tudo, divertida.

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Nota
resenha-resident-evil-a-conspiracao-umbrella<b>Título:</b> Resident Evil: A Conspiração Umbrella<br> <b>Autor:</b> S. D. Perry<br> <b>Editora:</b> Benvirá<br> <b>Páginas:</b> 232 páginas <br> <b>Gênero:</b> Ficção infantojuvenil<br> <b>Ano de publicação:</b> 2013<br> <b>Classificação Etária:</b> 16 anos