Uma terrível catástrofe em Nova York separou a principal equipe da Marvel. Buscando espairecer e fugir de uma nova onda de ódio da população que condena as ações do Quarteto Fantástico, Johnny, Ben e Alicia, e Sue e Reed, se dividem em grupos e saem em suas próprias aventuras pelo país.
Sem a ajuda um do outro, cada núcleo acaba tendo que resolver os problemas que aparecem à sua maneira, criando situações extremamente divertidas, ao mesmo tempo em que desperta no leitor a pergunta óbvia: Afinal, o que aconteceu com o Quarteto Fantástico?
Quarteto Fantástico (2023) Vol. 1, de Ryan North, Iban Coello e Ivan Fiorelli
Como é bom pegar um quadrinho divertido para ler sem preocupação de ter que entender todos os acontecimentos de uma mega saga. Não sentir a leitura ficar arrastada, desinteressante ou, pior ainda, ter com o sentimento de que perdeu diversos eventos importantes por não ter lido as 50 edições anteriores.
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Pra minha experiência, não existe nada mais chato do que começar uma nova série e já ficar desnorteado com acontecimentos importantes das fases anteriores. A ideia de zerar a numeração de uma série deveria ser justamente a de atrair mais leitores e dar a oportunidade para novas pessoas acompanharem o material. Quando isso não acontece, sinto uma desmotivação em continuar, largo mão e raramente volto atrás.
Inclusive, é por esse motivo que estou há alguns anos sem acompanhar, regularmente, mensais. Leio uma coisa ou outra quando há muito alarde sobre a obra – como nesse caso, com Quarteto Fantástico, de Ryan North.
Quando o material foi publicado pela Panini, em novembro do ano passado, muita gente estava elogiando a forma como os artistas vinham trabalhando com a equipe nessa nova fase que, originalmente, saiu em 2022 nos Estados Unidos. Para não estragar a experiência, procurei saber o mínimo possível sobre o material e agora posso confirmar que valeu muito a pena. Quarteto Fantástico (2023) Vol. 1 – O que aconteceu com o Quarteto Fantástico? é extremamente divertido! Realmente, é tudo aquilo que estão falando.
O texto do Ryan North, autor que vem ganhando um puta destaque na indústria por estar a frente de revistas como Inumanos, Adventure Time (ganhador do prêmio Eisner 2013), Power Pack e, principalmente, a série da Garota-Esquilo (The Unbeatable Squirrel Girl – ganhadora do prêmio Eisner 2017), é extremamente competente e funciona muito bem com a proposta da equipe. Ele tem total noção de alguns pontos importantes para dominar a narrativa de uma boa história do Quarteto Fantástico, como entender os princípios de cada personagem, seus poderes, a dinâmica deles como grupo e a importância da ciência (ou pseudociência) para as tramas.
North consegue entregar isso. Tanto nas tramas propostas, quanto na forma de conduzir a narrativa, seu argumento entrega a essência do Quarteto Fantástico. Eles são heróis e estão acostumados a salvar o mundo – mesmo que isso seja feito com pequenas ações – e podemos ver isso em diversas momentos desse primeiro volume.
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Em um deles, temos o Ben e a Alicia tentando ajudar os habitantes de uma cidade que estão presos em um fluxo temporal que os mantém revivendo o mesmo dia do ano, desde 1947; um ciclo que se reinicia toda noite e, em nada afeta o país, de modo geral, mas existe um motivo disso estar acontecendo e, esse sim, afeta a vida dos moradores daquela região (mesmo que não saibam disso). Então, eles se propõem a ajudar aquelas pessoas de uma forma bastante criativa, em uma das histórias mais bonitas que li em uma revista de herói nos últimos meses.
Já na edição do Johnny Storm, por sua vez, temos um Tocha-Humana tentando viver uma vida normal, arrumando um emprego, tingindo o cabelo, deixando um bigodão crescer e criando uma identidade (nada) secreta. Outra história super divertida e que, curiosamente, homenageia o grande John Byrne ao trazer de volta um personagem sem muita importância chamado Mr. Merrill – membro do grupo mafioso ‘Maggia’ que teve sua primeira aparição em Fantastic Four #233, de 1981.
Todas as demais edições compiladas nesse encadernado são igualmente boas e mantêm a excelência no desenvolvimento de personagens, inclusive aquela em que se revela o motivo da separação da equipe. Além disso, detalhes como esse easter egg ou mesmo a forma como trabalha com os poderes do Reed Richards mostram o domínio e entendimento que o North tem sobre cada um deles e sabe aproveitar o seu melhor para construir as situações.
As artes de Iban Coello e Ivan Fiorelli cumprem o seu papel. Nada de muito espetacular, apesar de ter bons momentos e algumas páginas extremamente bem feitas. Sinto que as últimas duas edições, feitas pelo Fiorelli, deixam a desejar um pouco. Fica bem perceptível a diferença entre uma arte e outra – o que me fez achar o trabalho do Coello mais consistente.
Mesmo assim, o complemento das cores de Jesus Aburtov contribui para que o trabalho seja acima da média que encontramos em edições mensais. Obviamente, as capas do gigantesco Alex Ross roubam muito a cena, então vale deixar claro que o conteúdo interno não é da mesma qualidade absurda. Mas tem o seu valor e competência.
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Quarteto Fantástico (2023) Vol. 1 é um quadrinho de histórias fechadas e bem amarradas, com ação, aventura, ficção-científica e diversão na medida, feito com muito esmero para atender as expectativas dos leitores. Uma ótima HQ para se recomendar para novos leitores (mesmo aqueles que nunca leram nada de Quarteto). A inspiração dos anos 1980 é nítida aqui e essa escolha, sem dúvidas, foi um dos principais acertos da equipe criativa por trás dessa obra. Estou muito ansioso para continuar lendo os próximos volumes.
Se gostou da resenha e também ficou curioso para ler essa nova fase do Quarteto Fantástico, saiba que o quadrinho compilando as edições de 1 a 6 de Fantastic Four (2022), está saindo com o preço de capa de R$44,90, tem a periodicidade de oito meses, sendo que o segundo volume deve chegar em maio deste ano, e vale a pena o investimento. Recomendo fortemente para leitores novos e véios de guerra.
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