O ano de 2023 promete ser bastante empolgante para os fãs brasileiros de Junji Ito. Seja pelas inúmeras publicação programadas para sair mensalmente por editoras como Pipoca e Nanquim e Devir, ou mesmo por produções como a mais recente série animada da Netflix. Uma coisa é certa: conteúdo é o que não vai faltar!
Contudo, com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo, a probabilidade de nos depararmos com algumas produções de qualidade duvidosa também aumenta e, infelizmente, foi o que aconteceu nessa primeira temporada de Junji Ito – Histórias Macabras do Japão.
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O anime que havia sido anunciado em junho do ano passado vinha sendo bem aguardado justamente por ter sido revelado pelo próprio mangaká, durante a Geeked Week. Com a experiência de adaptações medianas como o filme de Gyo e a antologia Junji Ito Collection (2018), era de se esperar que a história fosse diferente para a nova versão dos contos do mestre do horror. Mas não foi dessa vez.
Se for para levantarmos os possíveis suspeitos pela falha da produção, uma das principais apostas é o Studio Deen, o mesmo criador da coletânea bastante criticada de 2018. Sinceramente, não sei o motivo da Netflix ter escolhido o estúdio que já havia tido problemas com a produção de um anime no mesmo formato – que inclui a estrutura de 12 episódios, com cerca de 24 minutos cada.
E quando eu digo no mesmo formato, é o MESMO formato de verdade! Desde a estilização do anime, com problemas de personagens falando sem abrir a boca e péssimas renderizações 3D combinadas a um motion comic capenga em diversos momentos, até mesmo a montagem esquisita de alguns episódios que deixam a trama mais confusa do que deveria ser.
Como se não bastasse esses pontos negativos, o visual também não chega perto de captar o real horror dos contos macabras oriundos de uma das mentes mais obscuras do universo dos mangás. Há episódios que minam toda atmosfera assustadora que o autor constrói nas obras físicas, fazendo você se questionar se não era melhor ter deixado o conto apenas em sua versão original.
Só para deixar claro, temos bons episódios, sim. Pontuais, mas estão presentes ali. Posso citar os contos Cabelo longo no sótão, Cidade de Túmulos, Camadas de terror e Implicante com bons exemplos. Só que é aquele negócio, a expectativa era muito maior.
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A arte em si não chega a ser ruim, mas também não tem destaque nenhum. Tirando o próprio Implicante, presente no 10º episódio, que tem um tratamento de cores mais vivas, todos os outros são bem padrão. Nada que seja relevante ou memorável – algo que deveria ser proibido em uma adaptação de Junji Ito, que permite uma liberdade gigantes graças as suas loucuras e extravagâncias.
A seleção de contos que fizeram para compor essa primeira temporada também deixou a desejar. Mesmo com personagens icônicos como Tomie, Soichi e M𝗂𝗍𝗌𝗎 U𝖼𝗁𝗂𝖽𝖺 (A Mulher que Sussurra), os episódios não conseguem um resultado merecido.
E se não tem impacto visual, pelo menos a história consegue salvar, correto? Então… em partes. É nesse aspecto que lembramos estar assistindo algo produzindo por uma mente brilhante, capaz de criar o horror a partir de coisas cotidianas como o mofo em lugares úmidos de uma casa. Porém, nem mesmo seu brilhantismo é capaz de corrigir uma direção fraca que deixa muita coisa de fora dos episódio. Quando o negócio começa a ficar bom, os 24 minutos chegam ao fim, deixando um gosto meio amargo na boca.
Junji Ito – Histórias Macabras do Japão é uma das adaptações que me faz questionar qual é o seu verdadeiro público alvo. Os fãs do autor certamente vão assistir, mas não vão encontrar a qualidade que veem no mangá. Por sua vez, os espectadores que nunca viram nada escrito por Junji Ito irão estranhar aqueles contos bizarros, mas talvez nem cheguem a criar o interesse em ir atrás das obras, uma vez que os episódios não deixam claro de que são apenas recortes de arcos maiores.
Ao meu ver, o anime da Netflix tem somente uma função bastante clara e indiscutível para todas as pessoas que forem assisti-lo, o de preencher o vazio que fica entre o lançamento de um mangá outro.
Ficou interessado? Assista Junji Ito – Histórias Macabras do Japão agora mesmo, na Netflix.
